Blogue Blue

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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Este post foi copiado de Carta Maior - Arte & Cultura. Não foi por acaso. Mas para deixar guardado aqui um evento que não só aproxima fotógrafos, mas todos que desvelam mundos através da fotografia. 


No México, terra de fotógrafos, o foco é o Brasil

"Niña corriendo en un portal de Jalisco, 1961".
Juan Rulfo
Por Eric Nepomuceno

O México é terra de fotógrafos. Grandes, imensos fotógrafos. Alguns – Manuel Álvarez Bravo, Gabriel Figueroa – são referências indispensáveis do século XX. Foi também a terra adotiva da italiana Tina Modotti, e viu como seu maior escritor (e um dos maiores do idioma espanhol), Juan Rulfo, soube brilhar com luz própria e única no campo da fotografia.

Nada mais natural, então, que no México aconteça, a cada dois anos, um dos dez mais importantes eventos de fotografia em todo o mundo, o Fotoseptiembre. Trata-se de um evento de tamanho formidável: são 211 mostras que, a partir de setembro, percorrem todo o país ao longo de meses, reunindo, em 167 espaços, 641 trabalhos de mais de 200 fotógrafos de 18 países. Pois neste setembro de 2011, e nesse mar de números exuberantes, o foco central da enorme mostra mexicana está no trabalho de fotógrafos brasileiros.


Brasil e México são, possivelmente, os dois países latino-americanos de maior tradição fotográfica. Tentar estabelecer um diálogo entre essas duas tradições, abrindo espaço para a enorme diversidade de tendências, linhas, vertentes, abordagens, é o objetivo de 17 mostras específicas dentro da vasta programação do Fotoseptiembre. Ambos países desenvolveram formas próprias e peculiares na hora de lançar os olhos à procura de suas imagens, suas realidades, suas identidades. De repassar o passado buscando entender o presente e desvendar os caminhos do futuro.

Foto: João Castilho. Capturada no site do
Jornal 
El Universal
A mostra brasileira está composta por trabalhos de fotógrafos de diferentes gerações, expressões e experiências. Lá estão Geraldo de Barros e Iatã Cannabrava, Pedro Motta e João Castilho, Joaquim Paiva e o pesquisador Titus Riedel, com sua formidável coleção de lambe-lambes, e lá estão sobretudo as duas principais atrações da Fotoseptiembre, Maureen Bisilliat e Milton Gurán.


Gurán levou ao México sua impressionante série ‘Filhos da Terra’, Maureen sua série sobre autores brasileiros e suas regiões – geográficas e literárias: Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade. O diálogo entre a literatura e a fotografia, no caso de Maureen Bisilliat, resulta num terceiro território, inesperado e revelador.

No México, a fotógrafa disse que não concebe seu trabalho como fotos unitárias, isoladas: prefere trabalhar em seqüencias de fotos, ‘assim como escrever um pouco com a imagem’. Disse que os trabalhos que integram a série ‘são fotografias de certas regiões do Brasil, mas a maneira de expô-las foi junto a um autor brasileiro, pessoas que estiveram sempre atadas, de uma forma livre, à realidade de seu país’. 

É a primeira vez que Maureen leva essa série para fora do Brasil, e a expectativa dos organizadores do Fotoseptiembre, assim como o impacto causado no público, foram enormes.

Dois fotógrafos – Joaquim Paiva e Milton Gurán – doaram trabalhos, num total de 222 fotografias, para o Centro de la Imagen mexicano. 

Vivendo tempos de extrema turbulência, com o interior servindo de cenário para uma guerra aberta entre forças de segurança e grandes cartéis de narcotraficantes, o México consegue manter fôlego para iniciativas culturais como essa. Aliás, convém não esquecer em momento algum que, junto com Buenos Aires, a Cidade do México se preserva como grande pólo artístico e cultural da América Latina.



O diálogo agora aberto entre Brasil e México no campo da fotografia bem que poderia servir de exemplo para que outros segmentos se somassem a essa iniciativa, indo da literatura às artes cênicas, das artes plásticas ao cinema e ao audiovisual.

Há, entre Brasil e México, uma afinidade muito maior do que se imagina. Há, entre Brasil e México, diferenças que, mais que distâncias, são e devem ser pontos de partida para um diálogo intenso, instigante e enriquecedor.


Resta saber até quando continuaremos nos olhando de viés, resistindo a uma aproximação que não faria mais do que enriquecer os dois lados.



Gabriel Figueroa e Luis Buñuel

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