Autor: Raoul Vaneigem
Data: 2002
Tradução: Leo Vinicius
Local: São Paulo
Editora: Conrad
Sinopse na Livraria Cultura
"O aperto de mão ata e desata o laço dos encontros. Gesto ao mesmo tempo curioso e trivial a respeito do qual se diz, com justeza, que se troca. De fato não é ele a forma mais simplificada do contrato social? Que garantias tentam selar essas mãos apertadas à direita, à esquerda, ao acaso, com uma liberalidade que parece compensar uma clara ausência de convicção? Que o acordo reina, que o entendimento social existe, que a vida em sociedade é perfeita? Nada mais perturbador do que essa necessidade de nos convencermos disso, de acreditar pelo hábito, de afirmá-lo pela força do punho.
O olhar ignora essas complacências, desconhece a troca. Quando nossos olhos encontram outros, eles se perturbam como se decifrassem nas pupilas que lhes fazem face o seu reflexo vazio e privado de alma. Mal se tocam e já escorregam e se esquivam, as suas linhas de fuga irão se cruzar em um ponto invisível, traçando um ângulo cuja abertura exprime a divergência, a profundamente sentida falta de harmonia. Às vezes a harmonia se realiza, os olhos se acasalam; é o belo olhar paralelo dos casais reais na estatuária egípcia, é o olhar embaçado, derretido, afogado no erotismo dos amantes; os olhos que de longe se devoram. Mas, na maioria das vezes, o olhar desmente o fraco acordo selado num aperto de mão. O difundido costume do tapinha nas costas, do acordo social energicamente reiterado - o aperto de mãos fecha um negócio, revelando seu tom comercial -, não seria um truque para enganar nossos sentidos, um modo de amaciar a sensibilidade do olhar e de adaptá-lo ao vazio do espetáculo sem que haja resistência? O bom senso da sociedade de consumo deu à velha expressão "você tem que ver as coisas de frente" um novo sentido: ver diante de si somente as coisas." pg 37 e 38.
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