Fonte: FERU/RS
Vereadores discutem projeto que altera regime urbanístico de POA
Samir Oliveira
Em abril deste ano, a prefeitura de Porto Alegre enviou à Câmara Municipal oprojeto de lei 004/2012,
que cria um regime urbanístico diferenciado em algumas áreas da cidade
para a atração de empresas e indústrias de tecnologia. A proposta
institui o conceito de Regiões de Potencial Tecnológico (REPOTs), que
seriam parcelas do território destinadas a incentivas empreendimentos
industriais, comerciais ou de serviços ligados ao desenvolvimento
tecnológico.
Uma reunião na
tarde desta terça-feira (27) debateu o projeto na Câmara, já que os
vereadores ainda não aprovaram a medida, que está na ordem do dia para
ser votada. O encontro não possuiu caráter de audiência pública e era
previsto para ocorrer apenas entre integrantes da prefeitura e
parlamentares, mas o vereador João Dib (PP) – líder do governo –, que
presidiu os trabalhos, acabou permitindo o pronunciamento de entidades
presentes.
A principal
polêmica em torno do projeto é o tamanho da área destinada a ser uma
Região de Potencial Tecnológico de Porto Alegre. Pelo traçado da
prefeitura, enviado em anexo ao projeto, a REPOT englobaria os seguintes
bairros: Centro Histórico, Cidade Baixa, Menino Deus, Bom Fim e Moinhos
de Vento. Além disso, a área engloba uma faixa que vai da avenida Bento
Gonçalves até a Protásio Alves, incluindo as áreas da PUCRS e do Campus
do Vale da UFRGS.
De acordo com o
regime urbanístico diferenciado, nessa área o índice de aproveitamento
das edificações passaria a ser de 2,5 – o limite máximo previsto pelo
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA). É esse índice
que propicia o controle das densidades populacionais das regiões da
cidade. Multiplicados pela área líquida de um térreo, os índices de
aproveitamento definem a área de construção adensável de um imóvel.
Outra polêmica
envolvendo o projeto é a emenda do vereador Newton Braga Rosa (PP), que
estipula a criação de Áreas de Interesse Tecnológico (AITEC) no Plano
Diretor – assim como já existem as figuras da Área de Interesse Social e
da Área de Interesse Cultural. Essas AITECs teriam o mesmo regime
urbanístico de uma Região de Potencial Tecnológico, com alguns
diferenciais.
Um dispositivo
da emenda prevê um “tratamento preferencial”, por parte dos órgãos de
controle e licenciamento da prefeitura, a projetos que “contribuam para
alcançar os objetos desta lei, no que se refere a concessão de licenças,
alvarás, autorizações e outros atos do Executivo”. Além disso, a emenda
estipula que a prefeitura irá determinar, mediante um decreto, quais
áreas poderão ser consideradas como sendo de interesse tecnológico.
“Porto Alegre precisa atrair empresas para se tornar mais competitiva”, defende Newton Braga
Ex-titular do
Gabinete de Inovação e Tecnologia de Porto Alegre, o vereador Newton
Braga Rosa fez a defesa do PL 004/2012 diante dos colegas que
compareceram à reunião que discutiu o assunto nesta terça-feira (27). De
acordo com o parlamentar, as mudanças previstas no projeto são
necessárias para que a cidade se torne mais competitiva na atração de
investimentos.
“Porto Alegre
precisa atrair empresas como condição de se tornar mais competitiva,
gerar emprego, renda e receitas para o município”, defendeu. Ele citou o
conceito de cluster (agrupamento, em inglês), onde dezenas de
indústrias ou empresas de uma mesma área se agrupam em uma mesma região
de uma cidade – como ocorre em Londres, com a London Tech City, por
exemplo. “É uma região onde o governo investe massivamente para atrair
os grandes players”, explicou.
Newton Braga
também usou o exemplo do parque tecnológico da PUCRS, que se localiza na
sede da instituição, na avenida Ipiranga. “O TECNOPUC hoje tem mais
empregos do que uma montadora de automóvel e possui uma média salarial
quatro vezes maior”, comparou.
Para o
vereador, não procede a crítica de que a prefeitura decidira sozinha
sobre os benefícios concedidos aos investimentos nas Áreas de Interesse
Tecnológico, já que os processos passariam pela avaliação do Conselho
Municipal de Ciência e Tecnologia (COMCET), composto por integrantes da
administração municipal e da sociedade civil.
Oposição critica tamanho da área destinada à flexibilização e cobra projeto completo sobre o tema
A principal
crítica da oposição ao PL 004/2012 se refere ao fato de ele apenas
prever a alteração urbanística de algumas áreas da cidade como forma de
atrair investimentos. Os parlamentares oposicionistas sustentam que
somente essas medidas não são suficientes para atrair grandes empresas,
alegando que seria necessário elaborar uma política mais completa,
envolvendo também um programa de isenções tributárias.
Esse programa –
voltado à indústrias e empresas dá área tecnológica – já está sendo
elaborado pelo Gabinete de Inovação e Tecnologia da prefeitura. A
vereadora Sofia Cavedon (PT) cobrou que o projeto fosse enviado à Câmara
e anexado ao PL 004/2012, para que os parlamentares pudessem votar uma
proposta mais ampla e completa sobre o tema.
“Apenas índices
de aproveitamento não atraem empresas. Por que não enviam um projeto
mais completo?”, questionou. A petista também criticou a generalização
que a proposta provocaria em relação à flexibilização dos índices de
aproveitamento. “No artigo nove do projeto, está previsto que o
município pode alterar a área de uma REPOT. Estaríamos generalizando a
possibilidade de alteração do índice do Plano Diretor por parte da
prefeitura”, observou. Sofia também disse que estabelecer áreas de
interesse tecnológico por decreto “é complicado”.
Integrante da
base aliada, o vereador Valter Nagelstein (PMDB) concordou com a
oposição no que diz respeito à retirada total da área prevista pela
prefeitura para ser uma Região de Potencial Tecnológico. “Temos que ter o
cuidado de não vulgarizar o instrumento e ter discricionariedade por
parte do Executivo na hora de aplicar (os benefícios)”.
Entretanto, o
peemedebista defende que essas áreas sejam demarcadas por meio de
decreto da prefeitura – de acordo com a emenda do vereador Newton Braga –
e que haja agilização dos processos de licenciamento. “É preciso um
olhar diferenciado para esses investimentos. O que uma empresa de
tecnologia trouxer para Porto Alegre em termos de conhecimento e
investimento, será um ganho permanente para a cidade”, entende.
Representante
da Associação dos Geógrafos Brasileiros, Lucimar Siqueira questionou na
reunião da relação entre investimentos em tecnologia e o aumento de
índices de aproveitamento das regiões. Ela também criticou o discurso de
que as grandes empresas da área gerarão empregos em Porto Alegre. “Os
quadros que entram para trabalhar nessas empresas já vêm de outros
países e são qualificados”, alegou.
Ao final da reunião, ficou acertado que a Câmara Municipal irá convocar uma audiência pública para discutir o projeto.
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