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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Prefeito Fortunati levou apenas promessas para os moradores

Reunião de Fortunati com comunidades atingidas pelas obras da Copa na região Cristal foi registrada pelo GT de Comunicação do Comitê Popular da Copa. Mais uma vez as inconsistências e meias-verdades da Prefeitura deixam a população confusa sobre seu destino.



Marcado por contradições, o processo de remoção das 1.800 famílias que vivem às margens da Avenida Moeb Caldas/Cruzeiro levam insegurança e expõe os moradores a um estado de angústia e à beira do desespero por não terem idéia de qual será seu destino.

A maioria das famílias vivem no local há mais de 20 anos. Fato que, pela legislação brasileira, lhes dá o direito de, no mínimo, serem indenizados pela posse e pelos bens erguidos para a moradia.

Foto: Lucimar F. Siqueira
Muitos dos moradores levaram a vida toda para construir suas casas. Estabeleceram relações sociais, de trabalho, acesso à infraestrutura e outros elementos que permitem a inserção na cidade. A autoconstrução associada às intermitentes conquistas como a construção de posto de saúde e escolas realizada por governos anteriores permitiu que o poder público se colocasse numa situação cômoda em relação à suas obrigações quanto a garantia do direito à moradia adequada. Hoje, ao contrário, o governo brasileiro coloca à sociedade um conjunto de políticas públicas com verbas robustas para que os municípios não só atendam às necessidades de moradia da população mas preparem documentos e levantem informações para os Planos Locais de Habitação de Interesse Social.

Só para a elaboração deste plano(*) a Prefeitura de Porto Alegre recebeu verbas do PAC (**) no valor de R$ 65.900,00. Cabedizer que o conteúdo do Plano é síntese do relatório elaborado em 2003 pelo Instituto POLIS (Perfil da Habitação de Interesse Social de Porto Alegre).

Portanto, a Prefeitura de Porto Alegre conhece as necessidades habitacionais há bastante tempo. Existem levantamentos e diagnósticos sobre a questão habitacional desde, pelo menos, a década de 50:
  • 1951 (Levantamentos Econômico-Social das Malocas Existentes em Porto Alegre),
  • 1964 (Levantamento Sócio-Econômico nas Vilas e Agrupamentos Marginais de Porto Alegre),
  • 1973 (Malocas: Diagnóstico Evolutivo das Subabitações no Município de Porto Alegre)
  • 1981/89 - contagem do número de vilas, sub-habitações, população existente e número de famílias
  • 1991 - Censo socioeconômico dos aglomerados sub-normais (IBGE)
  • 1996/1998 - Censo de núcleos e vilas irregulares em Porto Alegre
  • 2006/2007 - Censo de núcleos e vilas irregulares em Porto Alegre
Os resultados do levantamento do IBGE realizado em 2010 deverão mostrar em breve a situação atual sobre os Aglomerados Subnormais de Porto Alegre.

Ainda relacionada ao processo histórico administrativo, no início da década de 60 ocorreu a reestruturação do setor ligado à habitação de interesse social na Prefeitura de Porto Alegre configurando o DEMHAB como existe hoje. Esta reestruturação ocorreu especificamente para que o DEMHAB se convertesse no principal responsável pela gestão da política de habitação de interesse social do município.

Se observarmos o pronunciamento do Prefeito no vídeo acima e levarmos em consideração estes ínfimos exemplos históricos chegamos à conclusão de que o vídeo é uma afirmação da forma improvisada como a administração atual trata da questão da habitação em Porto Alegre. No entanto, segundo o Prefeito Fortunati a Prefeitura ainda se encontra “às cegas” !

O Pronunciamento do Prefeito ocorreu em reunião realizada na comunidade no dia 29 de junho de 2011. Esta data é emblemática pois estava há exatamente um mês antes de encerrar o prazo para entrega na Caixa Ecoômica Federal do Projeto Básico das obras da duplicação da Av. Tronco.

Mas o que levou o Prefeito e todo seu staff até a Vila para se reunir com a comunidade? O protesto realizado pelos moradores se colocando em posição contrária a realização do cadastro como forma de provocar o diálogo com a Prefeitura. Esta atitude feriu os interesses da Prefeitura e foi este o único motivo pelo qual o Prefeito se dirigiu até a comunidade. No momento em que os moradores se colocaram como agentes do processo, a prefeitura se sentiu ofendida. Muito curiosa esta atitude numa cidade que foi o berço da democracia participativa no Brasil!

Ora, se o DEMHAB existe há mais de 40 anos, se os levantamentos anteriores já apontavam dados sobre as comunidades da região em questão, se a avenida estava no plano diretor desde a década de 50, porque é que há um mês da entrega do projeto na CEF a Prefeitura de Porto Alegre ainda não tinha discutido o Plano de Reassentamento com os moradores?

Que propostas apresentou?

Bônus Moradia, Minha Casa Minha Vida e Aluguel Social. A isto se resumiu o plano de reassentamento apresentado pela Prefeitura de Porto Alegre aos moradores da Av. Tronco/Cruzeiro no dia 29 de junho.

O Bônus Moradia (Indenização Assistida) e Aluguel Social compõem o grupo de Ações Emergenciais que, como o próprio nome diz, são usados para casos de imprevistos!



INDENIZAÇÃO ASSISTIDA: Em forma de bônus, em valor único, estipulado a partir do custo reassentamento/domicílio em operações convencionais da produção habitacional, dando a opção ao reassentado involuntário de escolher sua nova casa no mercado formal. Aplicado no Programa Socioambiental por sugestão do BID.

ALUGUEL SOCIAL: Recurso assistencial mensal destinado a atender emergencialmente, famílias sem moradia. Tem sido utilizado nas situações de excedentes do cadastro (famílias que ocupam a área pós-cadastro) já efetivado, quando da consecução das ações do Programa de Reassentamento.

Ficam as perguntas:

- Se o aluguel social aplica-se para os casos em que as famílias aguardam o reassentamento, como ficará no caso da Av. Tronco onde não há um Plano de Reassentamento?

- O que acontecerá se aproximadamente 2.000 famílias procurarem imóveis para alugar na mesma faixa de preços e mesma região da cidade? Evidentemente atingirá aqueles que já estão pagando aluguel e que não tem relação com a obra da Tronco.

Segundo o Prefeito, o aluguel social será utilizado enquanto o morador estiver aguardando a casa do Programa Minha Casa Minha Vida! Isto significa que a única alternativa habitacional oferecida pela Prefeitura não é DA Prefeitura, mas do governo federal. Isto não representa um problema, pelo contrário, mas mostra que a Prefeitura de Porto Alegre se retira do cenário no momento de assumir uma alternativa e joga no governo federal a responsabilidade pelas consequências dessa ação.

Cabe lembrar, também, que o Programa MCMV conta com regras, cronogramas específicos e apresenta custos para os moradores. Não é um programa de reassentamento. Ao contrário que o senso comum diz, as pessoas não recebem as casas gratuitamente. Mesmo nos menores estratos de renda, há o pagamento de hipoteca. Para os demais, cabe o financiamento via CEF.

Antes de finalizar fica uma outra pergunta: em que espaços se deu a decisão sobre as obras que deveriam ser realizadas para a Copa? Em debate recente o atual Coordenador do Comitê do RS para a Copa 2014, Carlos Eugênio Simon, afirmou repetidamente que a duplicação da Tronco não é obra essencial para a realização da Copa. As duas únicas obras efetivamente necessárias, segundo Simon, são o Estádio Beira Rio e a ampliação do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

Com a obra da Av. Tronco provavelmente teremos quase 2.000 famílias em aluguel social a partir de 2012. Ou seja, fora das suas casas e ainda não reassentadas. Portanto, a duplicação da Av. Tronco é uma obra estratégica para quem? As incorporadoras imobiliárias? 

(*) - Plano Municipal de Habitação de Interesse Social - Etapa II - Diagnóstico do Setor Habitacional de Porto Alegre
(**) 10º Balanço. Janeiro a Abril 2010. Rio Grande do Sul.

Por Lucimar F Siqueira
Geógrafa - Assessora Técnica ONG Cidade

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