Em relação à audiência pública de ontem (19/02/2013) no Ministério Público Estadual sobre o abate de tipuanas na praça Julio Mesquita – essa árvore-símbolo, que deu início ao movimento ambientalista no Rio Grande do Sul, por ocasião das obras do viaduto Imperatriz Leopoldina.
Há que se ter cuidado com as fantasias político-partidárias e mercadológicas das administrações, que não hesitam em fazer uso das habilitações e diplomas dos técnicos do quadro, não para que as assessorem na elaboração de projetos inteligentes, mas para que lhes encontrem álibis para suas invenções desastradas ou de sentido oculto.
Foi inteiramente infeliz a intervenção de um de seus quadros técnicos, ontem, a respeito de nativas e não nativas, na qual só lhe ocorreu indicar como única nativa a aroeira (de triste e sagrada memória e pesadelo de todos os campistas) e o jerivá (que deu origem ao cognome jerivá-sem-folhas para indicar alguém muito feio e desajeitado). Os ambientalistas se surpreenderam, e nem chegaram a rir, como eu. Ficaram apenas espantados.
Realmente, foi, como se diz, “um mico”. E sugerido obviamente por alguém que ouviu bater o sino mas não sabe onde, e de certo não é biólogo, nem urbanista, nem paisagista, nem mesmo jardineiro.
Prezados servidores da Coordenadoria do Ambiente Natural (?), quando é denunciado o uso inadequado de “exóticas”, isso se refere ao ambiente realmente natural, e ao vício mercadista da monocultura para poupar trabalho e empregos, e à lavoura de árvores (que não deve ser confundida com reflorestamento).
Na natureza, as espécies se misturam, cruzam e combinam. Morrem naturalmente, caem e apodrecem ao ar livre, liberando seus componentes para a nutrição das outras. E quando há disputas por espaço, ar e luz, essas espécies o resolvem ao natural sem necessitar da intervenção humana. Introduzir espécies exóticas nesses ambientes altera o equilíbrio já conquistado, e sua capacidade de resolver a competição inter-espécies em termos plenamente ecológicos. Quanto menos o homem for mexer nesses ambientes, tanto melhor para todos: homem, fauna, flora e clima.
No que se refere a parques, praças e arborização de ruas, entramos em terreno muito diferente, o da JARDINAGEM. Ou seja, da paisagem artificial, construída pelo homem para amenizar seu entorno, que ele tende a tornar seco, impermeável e inóspito com suas construções, vias de circulação e seus horrorosos, fedorentos e barulhentos veículos. As espécies devem ser escolhidas por sua serventia ao usuário: o habitante do local. Do ponto de vista de sua saúde e segurança, do ponto de vista de seu bem estar estético (paisagismo).
De uma árvore de rua se exige que seja copada, propicie sombra e frescor, e até proteja, relativamente, das chuvas; que atraia pássaros urbanos (cantores e eventualmente semeadores), mas seja inóspita para espécies agressivas ou perigosas para adultos e crianças, como maranduvás e assemelhados. Que, preferivelmente, não perca todas as suas folhas no inverno (pode ser relativamente caduca, mas não ao exagero), e seja bem cuidada o suficiente para não se envolver com lianas e ervas-de-passarinho e outras parasitas e epífitas que põem em risco sua saúde e segurança. É ótimo quando florescem e se cobrem de flores como ipês e jacarandás, ou patas-de-vaca, ou magnólias, mas isso não é indispensável. As árvores são plantadas no mínimo à distância de cinco (mínimo dos mínimos) e dez metros. Nessa distância, não são invasivas e não se disputam. E quando entrelaçam suas copas, produzem uma grande sensação de bem estar ao usuário.
Mas é preciso ter sempre em mente que elas não são árvores na natureza. Estão sujeitas à poluição desses horrendos carros da indústria brasileira - aqueles que se desfazem e matam os ocupantes à menor colisão, já que não têm controle de qualidade da ABNT - estão sujeitas a terem suas raízes aprisionadas pelo asfalto e as pavorosas lajes de basalto (que também são um atentado à segurança do pedestre), quando não vergonhosamente cimentadas por restos de obras construtivas.
Precisam, pois, de cuidados. Estão em ambiente hostil para elas e merecem cuidados especiais pelos benefícios que nos trazem. Enfim, precisam de cuidados de JARDINAGEM.
Árvores urbanas devem ser consideradas ÁRVORES DE JARDIM. Não importa sua origem , – como não importa a origem e a genealogia dos cidadãos brasileiros. Devem apenas ser acolhedoras e não provocar alergias nos transeuntes, moléstias respiratórias e urticárias.
Palmeiras e coqueiros não servem para isso. Não fazem sombra, não têm flores, não abrigam pássaros. Palmeiras e coqueiros são ótimas para os empreiteiros partidários da ocupação máxima dos terrenos, já que ocupam pouquíssimo lugar em termos de diâmetro - pouco mais que um poste. Também podem ser usadas como molduras de espaços, pelo mesmo motivo, ou, em maciços vegetais de parques, montando conjuntos visuais de grande efeito cênico/paisagístico.
Quanto ao embaraço da fiação elétrica nas árvores... Esse é um problema do mobiliário urbano (o nosso é péssimo, e certamente não mereceu cuidados paisagísticos nem arquitetônicos) e do sistema de distribuição de energia, e não das árvores. Não há justificativa alguma para que nossa fiação ainda não seja subterrânea, em 2013! Vejam só, esta teria sido realmente uma obra valiosa para a realização da Copa do Mundo em Porto Alegre, que deparará com uma paisagem de fios semelhante às existentes nos primórdios do século XX.
Falta TRABALHO HUMANO nessa prefeitura. Ao invés de terceirizar tudo para os oportunistas de plantão, a administração deveria promover concursos, selecionar os melhores, remunerá-los decentemente, oferecer-lhes boas e excelentes condições de trabalho, deixando claro que quem realmente é dono da cidade é o cidadão, e não o político eventualmente de plantão.
E, principalmente, não obrigar esses servidores a "pagar os micos" dos administradores políticos, e inventarem explicações desajeitadas para o que não tem explicação.
Tenham todos a minha simpatia.
Tania Jamardo Faillace
Escritora e jornalista
Nativa de Porto Alegre
Nativa de Porto Alegre
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